Pular para conteúdo

#74 Entrevista com Felix Kubin

Publicado em segunda-feira, 15 de setembro de 2025

cabeça

Conseguimos uma entrevista ÚNICA com o grande Felix Kubin, que já falamos antes. Dessa vez, escute sua história pela própria voz do mestre.

Para um estudo aprofundado de sua discografia, ouça o episódio 73

tocamos

mencionados

otras cositas más

Transcrição em português

Olá senhor Kubin, estamos muito felizes de tê-lo para esta entrevista. O senhor pode fazer um breve resumo do que faz?

Eu sou um compositor, curador, autor, também escrevo e produzo peças de rádio, e também sou um artista multimídia.

Pode nos contar do seu começo na música?

Ahoy, como dizemos em Hamburgo, que é a cidade de onde venho. Estou feliz em dar algumas informações sobre o que tenho feito, o que é na verdade não muito fácil, porque eu comecei bem cedo, como um adolescente, 40 anos atrás. Tudo isso começou quando ganhei um sintetizador Korg MS-20 aos 11 anos de idade. Ninguém que eu conhecia sabia o que era um sintetizador, então tive que ensinar eu mesmo como funcionava. Isso mudou completamente a minha vida. Eu estava na maior parte do tempo na sala de estar dos meus pais, de fones de ouvido, e comecei a compor minha música. Naquela época estava acontecendo a explosão do underground e a cultura de selos independentes, especialmente o chamado “cultura de home recording”, onde as pessoas gravavam suas próprias músicas em máquinas de cassete de 4 trilhas. Foi isso que fiz.

Como saiu dessa cultura de home recording e atingiu uma audiência maior?

Eu comecei a gravar minha própria música e por acidente acabou caindo nas mãos de um dono de um selo underground muito importante, chamado Alfred Hilsberg. Ele tinha o selo Zickzack, que também lançou discos seminais de bandas como Einstürzner Neubauten, Tödliche Doris, Holger Hiller, Palle Schaumburg e muitas outras bandas. Naquela época, meu amigo e eu tinhámos um duo chamado “Egozentrischen Zwei", e Alfred Hilsberg nos deu a oportunidade de fazer alguns shows, a maioria em festivais punk ou de new wave, e esse foi o começo para mim. Eu compus muitas músicas, acho que fiz por volta de 50 músicas com minha máquina de 4 trilhas. Naquela época, não havia nada lançado por nós. Mais 25 anos depois, quando consegui muquiar algumas dessas músicas numa mixtape para alguns amigos na França, eles me perguntaram “que tipo de música é essa?”. Eu respondi “Bem, são coisas que eu fiz quando era mais novo”. Eles decidiram que queriam ouvir mais. Então eles publicaram sob o nome de “The Tetchy Teenage Tapes of Felix Kubin”. Isso virou um grande sucesso, ou pelo menos foi uma novidade no mundo da música alternativa. Tocou bastante no WFMU em Nova Iorque e teve um bom review na revista The Wire, dentre outros. Ou seja, a minha música adolescente foi descoberta 25 anos depois. No meio tempo, eu comecei a fazer música noise com minha banda Klangkrieg com outro cara, e pesquisei muito sobre música eletro-acústica, industrial e pós-industrial. E nós fizemos vários CDs na época.

E depois? Quando o senhor assumiu a alcunha de Felix Kubin?

Pelos finais dos anos 90, eu conheci uma cineasta polonesa que também virou minha parceira amorosa, Mariola Brylowska. E eu fiz música para seus filmes animados. Essas trilhas voltaram para a música pop que eu fiz no começo dos anos 80.

Algumas dessas músicas foram lançadas no álbum Film Musik. Esse foi meu primeiro álbum lançado sob o nome “Felix Kubin”. E desde então tenho lançado muitos álbuns de todos os tipos de música, do experimental ao skeleton club músic, uma música de clube mais abstrata. Mas basicamente eu tenho desenvolvido minhas habilidades para peças de rádio, que eu produzo para a rádio alemã.

Aqui eu faço o que realmente quero. Já fiz historías de ficção científica. Também fiz uma peça de rádio só sobre microfones, experimentos com microfones que queimei e submergi em água enquanto estavam gravando, coisas desse tipo.

Também virei um curador para um festival, que fundei com 2 amigos em 2018. Um festival em Hamburgo chamado Papiripa, que fica na fronteira entre a arte e a música. Também compus música para compositores contemporâneos, orquestras de câmara, até orquestras maiores, e também com instrumentos eletrônicos misturados com acústicos. Um exemplo é o disco Echo House, onde todos os músicos que participaram foram colocados em salas de som diferentes, conectados apenas pelos fones de ouvido.

Em off, estávamos falando dos seus trabalhos com toques humorísticos, você poderia falar um pouco mais deles?

Também fiz alguns discos mais “zoeira”, alguns conceituais como o “Coughs and Sneezes Spread / Diseases” (Tossidas e espirros / Espalhar Doenças). Aliás, esse é um disco que veio numa edição pequena de 93 discos prensados à mão, e contém só espirros de amigos meus. É um disco bastante musical, e também muito bom no inverno, quando todo mundo pega resfriado.

E o seu último trabalho, “Der Tanzaller”?

O disco mais novo que fiz se chama Der Tanzaller, é um disco baseado numa música de performance que criei em 2013, para o coreógrafo pioneiro e artista cibernético Rudolf von Labal, que inventou o sistema de notação para movimentos. Sim, como uma notação gráfica para movimentos, que ainda é usado por astronautas hoje em dia, porque é independente da gravidade. Este disco eu fiz para uso de cravo, metais, sequências eletrônicas e percussão, incluindo percussão sonora como marimba e glockenspiel.

O que o senhor planeja fazer no futuro?

O que eu farei no futuro? Estou planejando no momento gravar um álbum solo depois dos meus últimos álbuns de synth pop “Matt Givandalki” e “Samster Plutona”.

Quero gravar um novo álbum no outono ou inverno europeu neste ano, então deve ser lançado pelo selo Bongo Joe Records, um bom selo de Geneva na Suíça, que será lançado ano que vem. Eu também gostaria de compor mais sons para arquitetura. Eu trabalho junto com um artista de vídeo lá chamado Josefin Böttger e produzimos obras de instalação para instalações audiovisuais em edifícios industriais abandonados. Eu tenho muito interesse em edifícios brutalistas e já compus algumas músicas para isso, e também alguns filmes que são projetados nesses edifícios.

É, esse é o plano que tenho. Eu gostaria de fazer uma turnê mundial em 5 ou 6 edifícios brutalistas pelo mundo inteiro e produzir algumas trilhas para estes prédios. Minha nova peça de rádio, que você pode ouvir online, está em inglês, o que é uma grande excessão para radios alemãs. Esta peça é baseada em poesia, poesia falada (spoken poetry) que fiz em 2022 enquanto eu morava em Villa Aurora em Los Angeles. Lá eu gravei poetas de Los Angeles e São Francisco. Depois, fiz uma colagem com os seus poemas e adicionei novas músicas nisso, o que acabou se tornando toda uma peça. É chamado Flow Poetry Beyond Baroque and Words (Poesia Fluída Além do Barroco e Palavras). Você deve achar um link nas shownotes. É isso, muito obrigado e espero ver vocês todos em breve. Talvez quando retornar ao Brasil e tocar alguns concertos. Quem sabe em um dos seus edifícios brutalistas? Tchau tchau.

Muito obrigado pelo seu tempo. Esperamos te ver novamente no Brasil!

Transcrição em inglês

Hi Mister Kubin, We are so happy to have you here for this interview. Can you do a brief overview of what you do?

I am a composer, curator, author, I write radio plays and I produce them myself and I also a media artist.

Can you tell us about how you started doing music?

Ahoy, as we say in Hamburg, that’s the city where I come from. I am happy to give you some information about what I have been doing so far, which is actually not so easy because I started very early as a teenager, 40 years ago or even longer. And this all started when I got a Korg MS-20 synthesizer and I was 11 years old. Nobody knew what a synthesizer was around me, so I had to teach myself and learn and understand how it works. This has completely changed my life. I was only in the living room of my parents, mostly on the headphones, and started to compose my own music with it. At that time it was just the explosion of the underground and independent label culture and especially the so-called home recording culture where people would just start to record their own music on four-track audio cassette machines. That’s what I did.

How did you get from the home recording to a broader audience?

I started recording my own music and by accident this got into the hands of a very important underground label boss called Alfred Hilsberg. He ran the label Zickzack, which has also released very seminal records by Einstürzner Neubauten, Tödliche Doris, Holger Hiller, Palle Schaumburg and many other bands. At that time and he gave me and my friend, we had a duo together called the “Egozentrischen Zwei” the opportunity to play some live shows mostly at punk festivals or new wave festivals and that was the beginning for me. I composed lots of tracks, I think like around 50 tracks I made with my four track machine And at that time, nothing has been released by us. But 25 years later, when I sneaked some of these tracks on a mix tape for some friends in France, they asked me, what is this kind of music? And I said, well, it’s stuff I made when I was young. And then they decided they wanted to hear more. And then they put it out under the name The Tetchy Teenage Tapes of Felix Kubin. This became actually quite a success or at least a novelty in the independent music world. It was played a lot on WFMU in New York and it got a great review in The Wire and so on. So the teenage music was discovered 25 years later. In between I actually started making noise music with my band Klangkrieg with another guy together and I researched a lot about electro-acoustic music, about industrial and post-industrial music. And we put out quite a bunch of CDs at that time.

And then? When did you take the “Felix Kubin” nickname?

By the end of the 90s, I got to know a Polish filmmaker who also became my partner, my love partner back then, Mariola Brylowska. And I made music for her animation films. And they went back to the pop music that I made in the early 80s. And some of these tracks have been released on the album Film Musik. That was the first album I released under the name Felix Kubin. And since then I have released plenty of albums of all kinds of music from very experimental to like skeleton club music, like abstract club music. But basically I have been developing also my skills for radio plays, which I produce for German radio public radio stations and here I can actually do what I want. I made sci-fi stories, I made a radio play only about microphones, experiments with microphones that I burn and drown in water while they are running and stuff like that.

And I also became a curator for a festival, which I founded with two friends in 2018, a festival in Hamburg called Papiripa, which is on the edge of art and music. And I also composed music for contemporary composers, chamber orchestras, even bigger orchestras, and for electronics mixed with acoustic instruments. One example is the record Echo House. Echo House, where all the musicians that took part in this, of the Ensemble Integral, they all were placed in different sounding rooms, only connected with headphones with each other.

We were talking about your more works with a touch of humour, can you tell us more about them?

I also made some Tongue-in-cheek records, more conceptual ones like Coughs and Sneezes, Spread Diseases, that’s a record that came out in a small edition of 93 hand-cut lathe records, and it only contains sneezes of friends of mine. Very musical record and very good also in winter when everyone has a flu.

How about your latest work “Der Tanzaller”?

The recent newest record I made is called Der Tanzaller. It’s a record that is based on a performance music that I created in 2013 for the early choreographer and kybernetik artist Rudolf von Laban, who invented a notation system for movements, yeah, like a graphic notation for movements which is still used by astronauts nowadays because it’s independent from gravity. That record I made for instrumentation of harpsichord, brass, electronic sequences and percussion including sounding percussion like marimba and glockenspiel.

What are you planning to do in the future?

What do I do in the future? I am planning at the moment to record a new solo album after my last solo synth pop albums Matt Givandalki and Samster Plutona.

I want to record a new album in autumn or winter actually this year and then this is supposed to be released on Bongo Joe Records, a very nice label from Geneva in Switzerland, which will be released next year. I also would like to compose more sounds for architecture. I work together with a video artist there called Josefin Böttger and we produce installation works for audiovisual installations within abandoned industrial buildings. I’m very interested also in brutalist buildings and we already composed some music for that and some films also that are projected inside these buildings.

Yeah, this is a plan I have. I would like to make a world tour in five or six brutalist architecture buildings all over the world and produce some special soundtracks for these buildings. The newest radio play, which you can listen online, and it’s in English, a very big exception for German radio, this play is based on poetry, spoken poetry recordings that I made in 2022 while I was in a residency at Villa Aurora in Los Angeles. And so I recorded poets from Los Angeles and from San Francisco. And later on, I made a sound collage out of their poems and I created new music to it and made a whole piece about it. It’s called Flow Poetry Beyond Baroque and Words. And you should be able to find it in a link that the podcast Trisera Tops Hop hopefully can put somewhere on the website. That’s all. So many greetings and hope to see you soon. Maybe when I return to Brazil and play some concerts. Maybe inside one of your brutalist buildings. Bye-bye.

Thank you so much for your time. We hope to see you in Brazil.

Capa do episódio